domingo, 31 de maio de 2009

teste

domingo, 24 de maio de 2009

Amores

Luzes
vagas
vaga
lumes
peri
lampos
lique
feitos
lux
quefeitos
que in
candescem
noite
calma
candida
mente.

Poesia

Se poesia é vida,
se poesia é palavra
nela cabem o poente
e a linha do horizonte,

e as crianças descalças
dormindo nas calçadas
ou ao abrigo de pontes.


Se poesia é vida,
se poesia é palavra
nela cabem as utopias,

e a miséria dos dias.


Cabem na poesia,
que é palavra,
a vida
e o arco-íris
e a estrela-d'alva,

e as lágrimas
d'alma
de cada dia.


Poesia
é vida
é palavra
é hino
é canção,

mas
também é grito
do imo
do peito
safenado.

Olhar

O alvo
- o coração.

As lâminas faiscantes de estrelas
- teus-olhos-shurikens.

Poesia

Na centrífuga
ponho o poema
- e o sonho.

E sorvo
o sumo
...só!

Poesia

Na seara da palavra
limo
teimo
lavro
meu lavoro.

Quero-te
palavra alvejada
no rio de luzes
da aurora boreal.

Barulhos de tua ausência

1. Toc-toc-toc de sandálias
em degraus infindáveis...

2. Em primeiríssimo plano: um beijo - clic-bilabial-sonoro.

3. Porta ragendo...

4. O tilintar de duas taças finas.

5. Quase imperceptível: roupas descendo ao chão...

6. "My way" rodando, rodando, rodando...

7. O vento...e um varal vazio.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Assim Seja

Era uma vez uma mulher, chamada Carmem Maria, que não queria ter olhos de ver, mas apenas seus belos olhos verdes, e que no fim do primeiro amor murmurou “continuarei a ser bela e faceira”, e no fim do segundo voltou a defender sua faceirice sistemática, e no terceiro proclamou, com sua beleza, “vou dar a volta por cima”, e no quarto o eterno repetitório, e recentemente, quando Lúcio foi embora, tapinhas nas costas, as amigas lhe garantiram “não é nada, Carmem Maria!, você vai dar a volta por cima”. Carmem Maria vai dar a volta por cima senão não se chama Carmem Maria!
Era uma vez um homem chamado “Joaquim, que tirou Josefa da Voluntários, “pois deste limão hei de fazer uma limonada” – disse -, e levou-a ao ginecologista, e encaminhou-a para um teste de AIDS, e lhe deu casa na Glória, “ pois deste limão...”, e lhe deu até dentista, mas Josefa traiu Joaquim, arrumou amantes, depois um gigolô, e Joaquim suicidou-se, depois de deixar sua mensagem “doce me foste, mesmo sendo limão.”
Era uma vez uma santa mulher, viúva, o marido foi morto pela polícia que pegou o homem errado, “mas que fazer – ponderou – Deus escreve certo por linhas tortas!”, e que tinha uma filha que engravidou aos 14 anos, “mas Deus escreve certo por linhas tortas!” – insistia -, e outra, mais velha, se casou, traiu o marido, se separou e que, embora se tornasse prostituta, a mãe dizia, no leito de morte, “Deus escreve certo por linhas tortas”!
Era uma vez uma mulher...

terça-feira, 19 de maio de 2009

AFINAL, COERDEIRO OU CO-HERDEIRO?

É verdade que o texto oficial do Acordo 1990 tem lá suas gralhas (vírgulas e parênteses a mais, vírgulas e parênteses a menos, acentos indevidos, desformatações), omissões, contradições. (Mas sem exageros quanto a esse particular! Quer dizer: não se generalize...)

Não foi por acaso que a Academia Brasileira de Letras elegeu quatro critérios para a elaboração da 5ª edição do VOLP: 1) obediência ao Acordo (Elementar...); 2) leitura/interpretação do Acordo de maneira ampla, estabelecendo uma linha de coerência do texto com o todo; 3) obediência ao espírito de simplificação presente no Acordo; 4) observância da tradição ortográfica (acordos anteriores) para resolver pendências.

No caso específico de coerdeiro ou co-herdeiro?, é lógico que o texto oficial não é claro e, pior, contraditório, haja vista a polêmica e o estranhamento, principalmente de portugueses, quanto ao fato de o Brasil, a Academia Brasileira de Letras, estar a desrespeitar o pacto ao registrar no VOLP a forma coerdeiro.

Explica-se.

Reza o Acordo na Base XVI, 1º), letra a) que só se emprega o hífen nas formações em que o segundo elemento começa por h: anti-higiênico, circum-hospitalar, co-herdeiro (...)

Portanto, co-herdeiro.

Em seguida, na mesma Base XVI, letra b), em forma de observação, está registrado Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante (...)

Por isso, entende-se que se deva grafar coerdeiro.

Essa é a primeira incoerência; a primeira falta de clareza, de explicitação clara.

Para completar, deve-se referir a Base II, 2º), letra b), que preceitua a supressão do h inicial Quando, por via de composição, passa a interior e o elemento em que figura se aglutina ao precedente: biebdomedário, desarmonia, desumano, exaurir, inábil, lobisomen, reabilitar, reaver.

Logo: coerdeiro.

Diante de quanto foi exposto até aqui, a que conclusão chegar?

Entende-se que a forma coerdeiro pode ser defendida
a) invocando-se a Base XVI, letra b), conforme observação;
b) invocando-se a Base II, 2°, letra b);
c) levando-se em conta as grafias coabitar, coabitação, aceitas sem contestação.


Para finalizar, acrescente-se que o Acordo não pode ser criticado como um todo por causa de suas inúmeras imperfeições; e que o ponto de vista aqui defendido pode ser contestado. Arrematar-se-ia dizendo que ortografia é convenção.

domingo, 17 de maio de 2009

Todos Nós Somos Doutores
1. Introdução

De tempos em tempos, volta a dúvida, a discussão: quem é Doutor/doutor? Devo/posso chamar meu médico de "doutor"? E um advogado pode assim se denominar? E os cirurgiões-dentistas, os engenheiros, os enfermeiros, os fisioterapeutas? "Doutor" não é apenas quem defende tese em Curso de Doutorado? Afinal, "doutor" é título ou forma de tratamento? Quem é doutor? Para esclarecer a questão, surge outra hesitação: a que fontes recorrer? Aos dicionários? À História? À legislação? Aos usos e costumes que se instauram em nossa vida em sociedade? O presente artigo pretende trazer algumas luzes sobre o assunto.


2. Os Doutores da Lei - os escribas


A palavra "escriba" procede do latim, do verbo "scribere", que significa "escrever". Na antiguidade, os escribas eram homens que atuavam como copistas e redatores das leis. Sua função, entre os hebreus, acabou por concentrar-se na interpretação e no ensino das Sagradas Escrituras e na formulação e aplicação do Direito, deduzido dos livros sagrados. Nos Evangelhos, são chamados de rabinos, de mestres, qualificativos que foram aplicados também a Jesus Cristo e a João Batista. Um dos pontos centrais da narrativa dos Evangelhos é o ataque enérgico de Jesus contra esses Doutores da Lei, como se pode ler em Mateus-cap.23: 1-7;23-27:
Então, falou Jesus às multidões e aos seus discípulos:Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus.Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem. Atam fardos pesados [e difíceis de carregar] e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens. (...)Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas! Guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo!Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, mas estes, por dentro, estão cheios de rapina e intemperança!Fariseu cego, limpa primeiro o interior do copo, para que também o seu exterior fique limpo!Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia!


3. Os Doutores da Igreja


Os primeiros ilustres mestres da fé, sucessores imediatos ou quase imediatos dos apóstolos, recebem na História da Igreja a qualificação de Padres Apostólicos, entre eles Inácio de Antioquia, Clemente de Roma e Ireneu de Lyon. A geração seguinte é chamada de Padres da Igreja. A partir do século IV, brilham como expoentes os chamados Doutores da Igreja, muitos dos quais fazem parte dos Padres da Igreja. São em nº de 32. Os Doutores da Igreja são homens e mulheres reverenciados pela Igreja pelo especial valor de seus escritos, de suas pregações e da santidade de suas vidas, dando assim contribuição valiosa à fé, ao entendimento dos Evangelhos e da doutrina, Citam-se entre eles Santo Agostinho (354 - 430), Santa Catarina de Sena (1347 - 1380), São Gerônimo (384 - 420), São João Crisóstomo (349 - 407), São João da Cruz (1542 - 1591), Santa Teresa d'Ávila (1515 - 1582) e São Tomás de Aquino (1225 - 1274). D. Lucas Moreira Neves lembra que, quando o papa João Paulo II declarou Santa Teresinha do Menino Jesus Doutora da Igreja, um jornalista sugeriu que a santa carmelita se tornasse intercessora em favor dos hospitais públicos brasileiros e em favor dos doentes que são atendidos muito mal. Outro propôs Teresinha como padroeira da Pastoral da Saúde. Lamentável esse equívoco dos jornalistas, ao confundir esse título de "Doutor" com o sentido de "médico".


4. Os advogados


O título de "doutor" foi outorgado, pela primeira vez, por uma universidade, a um advogado, em Bolonha, que passou a ostentar o título de "Doctor Legum". Entre nós, a tradição de se chamar o advogado de "doutor" remonta ao Brasil Colônia. Naquela época, as famílias ricas prezavam sobremaneira ter em seu meio um advogado (e também um padre e um político). O meio de acesso a esses postos era a educação. O advogado - conhecedor de leis, detentor de certo poder de libertar e de prender - assenhorava-se desse poder mediante formação privilegiada. A tradição logo transformou o termo em sinônimo de posição superior dentro da escala social. Há que se mencionar ainda o Alvará Régio, editado por D. Maria, a Pia, de Portugal, pelo qual os bacharéis em Direito passaram a ter o direito ao tratamento de "doutor". E o Decreto Imperial (DIM), de 1º de agosto de 1825, que deu origem à Lei do Império de 11 de agosto de 1827, que "cria dois Cursos de Ciências Jurídicas e Sociais; introduz regulamento, estatuto para o curso jurídico; dispõe sobre o título de doutor para o advogado".


5. Os médicos


Nos países de língua inglesa, os médicos são chamados de "doctor". Quando escrevem artigos, ou em seus jalecos, no entanto, não empregam o termo, mas apenas o próprio nome, acompanhado da abreviatura M.D. (medical degree), isto é, "formado em Medicina", "médico". Entre nós, o "doutor" do médico se generalizou na boca do povo por tradição, por respeito, por admiração, por espontânea deferência pelo saber da doutrina e prática do ofício médico

.
6. Os enfermeiros e os fisioterapeutas


Algumas profissões não-médicas da área da saúde - como a de enfermeiro e de fisioterapeuta - evocam também para si a prerrogativa do título de "doutor". Assim, o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional de 8ª Região - CREFITO 8 - recomenda o título de "doutor" aos profissionais fisioterapeutas e terapeutas. Por seu turno, também o Conselho Federal de Enfermagem - COFEN - autoriza o uso do título pelos enfermeiros, conforme Resolução COFEN nº 256/2001. Entendem os respectivos Conselhos que deva ser mantida a isonomia entre os componentes da Equipe de Saúde e que "a não utilização do título de Doutor leve a sociedade e mais especificamente a clientela (...) a pressupor subalternidade, inadmissível e inconcebível, em se tratando de profissional de nível superior".


7. Os cirurgiões-dentistas, os engenheiros, os economistas ...


Há o costume por parte de cirurgiões-dentistas, engenheiros e economistas de autodenominarem-se ou de serem chamados de "doutores". Em outras categorias de profissionais, é mais difícil encontrar alguém que assim se intitule. A propósito, lembramos que, em Portugal, o título de doutor é estendido a todos os formados em nível superior.


8. Os que fizeram doutorado


No mundo acadêmico, é chamado de "doutor" quem cursou doutorado e defendeu uma tese diante de uma banca composta por cinco doutores.


9. O Doutor Honoris Causa


O título honorífico "Doutor Honoris Causa" é o reconhecimento acadêmico mais elevado de uma universidade para distinguir pessoas que, em qualquer tempo, tenham prestado relevantes serviços, servindo de exemplo para a comunidade acadêmica e para a sociedade.


10. "Os bem vestidos"


Aziz Lasmar, em caderno de Debates da RBORL, de março - abril de 2004, relata que atendia a uma menina de uns 5 ou 6 anos, que prestava atenção a tudo, principalmente a como a mãe se dirigia a ele: doutor pra cá, doutor pra lá. Num dado momento perguntou à mãe se ele era afinal doutor ou médico. Antes que a mãe respondesse, o médico falou que era médico ..... que doutor era qualquer um que tivesse carro. O relato ilustra um dos vários sentidos do termo "doutor": tratamento que as pessoas mais humildes dispensam aos que se apresentam bem vestidos, aos que estão acima, que podem mais , que têm mais. É, assim, um tratamento de vassalagem, e quem o usa se submete, se põe em inferioridade social, se auto-exclui.


11. Conclusão


Entre os advogados, há quem pense que os médicos pretendem monopolizar o título de doutor, primeiramente empregado por advogados. Entre médicos, há quem considere que enfermeiros e fisioterapeutas que se intitulam "doutores" fazem propaganda enganosa, dando a impressão de serem médicos. Entre os pós-graduados que cursam doutorado e defendem tese há quem julgue que somente eles podem ser chamados de doutores. Constatada a polêmica, e depois do que se escreveu até aqui, apresentam-se algumas conclusões, abertas a críticas e a outros considerandos.
O "doutor" do advogado e do médico surgiu, se fixou e se matém por longa tradição, por especial e espontânea deferência dos cidadãos, dos utentes da língua. Uso legítimo, pois, "O que o simples bom senso diz é que não se repreende de leve num povo o que geralmente agrada a todos", disse o poeta Gonçalves Dias. Bem mais antiga é a sentença de Horácio ao se referir ao uso, que ele considera proponderante na interação lingüística: Multa renascentur quae jam cecidere cedentque / Quae nunc sunt in honore vocabula, si volet usus, / Quem penes arbitrium est et jus et norma loquendi. (Muitas palavras que já morreram renscerão e cairão em desuso as palavras que atualmente estão em voga, se assim quiser o uso, que detém o arbítrio, o direito e a norma de falar).Entende-se, pois, que a língua é uma questão de usos e costumes. Que os falantes são os senhores absolutos de seu idioma. Que os usos lingüísticos não se regulamentam por decretos, por imposição de resoluções. A lei, em questões lingüísticas, é ilegal. Quem ousa legislar sobre o que se deve e o que não se deve dizer incorre em abuso de poder. É uma atitude irracional e irrealista, pois nada altera o que é de uso consagrado. Aos que se insurgem e vociferam contra tais usos, que têm direitos de cidadania, Mestre Luft lembrava a frase: "Os cães ladram e a caravana passa".
Quanto ao "doutor" do enfermeiro, do fisioterapeuta, do cirurgião-dentista, do engenheiro, do formado em curso superior .... dizem os dicionários que "doutor" é um título que, por cortesia, se costuma dar àqueles diplomados em curso superior. Se se costuma, de fato, não há por que discutir. Em Portugal, o emprego desse título é generalizado a professores primários, formados em Medicina, diplomados em faculdades e os que defendem tese de doutoramento. Aliás, lá todo mundo é "excelência". Costume. Tradição. Mas, se aqui no Brasil não se costuma ... Pode-se dar que esse uso se instaure ou se generalize, pelo fato de os profissionais em questão assim se denominarem e/ou serem denominados por seus paciente ou clientes.
Pelo que se disse até aqui, não assiste razão àqueles que querem reservar o título de "doutor" somente a quem fez doutorado e defendeu tese. Se querem se distinguir dos demais, há formas como as exemplificadas:
Dr. Fulano de Tal - Doutor em MedicinaProf. Dr. Fulano de Tal - Doutor em Letras
Registram os dicionários que "doutor" é aquele que está habilitado a ensinar; homem muito instruído em qualquer ramo; homem que deita sapiência a propósito de tudo; homem com muita experiência; indivíduo que reincinde, que costuma ter o mesmo procedimento (Ele é doutor em prometer e não cumprir); tratamento dado por porteiros, frentistas, engraxates, flanelinhas, etc; entre outros resgistros. Então, todos nós somos doutores.
Há doutores e doutores. Cabe discernir onde o vulgo confunde.
Etimologicamente, o vocábulo "doctor" procede do verbo latino "docere" ("ensinar"). Significa, pois, "mestre", "preceptor", "o que ensina". Da mesma família é a palavra "douto"que significa "instruído", "sábio". Sábio. Então, quem é mesmo Doutor?

CREIO


CREIO que a função principal da escola é a de desenvolver ao máximo a competência da leitura e da escrita em seus alunos.

CREIO na leitura, porque ler é conhecer - o que aumenta consideravelmente o leque de entendimento, de opção e de decisão das pessoas em geral.

CREIO na leitura como uma reação ao texto, levando o leitor a concordar e a discordar, a decidir sobre a veracidade ou a distorção dos fatos, desmantelando estratégias verbais e fazendo a crítica dos discursos - atitudes essenciais ao estado de vigilância e lucidez de qualquer cidadão.

CREIO na escrita como instrumento de luta pessoal e social, com que o cidadão adquire um novo conceito de ação na sociedade.

CREIO que, quando as pessoas não sabem ler e escrever adequadamente, surgem homens decididos a LER e ESCREVER por elas e para elas.

CREIO que nossas possibilidades de progresso são determinadas e limitadas por nossa competência em leitura e escrita.

CREIO, por isso, que a linguagem constitui a ponte ou o arame farpado mais poderoso para dar passagem ou bloquear o acesso ao poder.

CREIO que o homem é um ser de linguagem, um animal semiológico, com capacidade inata para aprender e dominar sistemas de comunicação.

CREIO, assim, que a linguagem é um DOM, mas um DOM de TODOS, pois o poder de linguagem é apanágio da espécie humana.

CREIO que o educando pode crescer, desenvolver-se e firmar-se lingüisticamente, liberando seus poderes de linguagem, através da simples exposição a bons textos.

CREIO, por isso, em M. Quintana, que afirmou: "Aprendi a escrever lendo, da mesma forma que se aprende a falar ouvindo, naturalmente¨.

CREIO, pois, no aluno que se ensina, no aluno como um auto/mestre, num processo de auto-ensino.

CREIO que o ato de escrever é, primeiro e antes de tudo, fruto do desejo de nos multiplicarmos, de nos transcendermos, e mesmo de nos imortalizarmos através de nossas palavras.

CREIO, juntamente com quem escreveu aos coríntios, que a um o Espírito dá a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro, ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, ainda, o dom de as interpretar.

CREIO que a ti te foi dado o poder da PALAVRA.

CREIO, por isso, na tua paixão pela palavra. Para anunciar esperanças. Para denunciar injustiças. Para in(en)formar o mundo com a-vida-toda-linguagem.

PORTANTO, vem! Levanta tua voz em meio às desfigurações da existência, da sociedade: tu tens a palavra. A tua palavra. Tua voz. E tua vez.




ESCREVER


ESCREVER é uma atividade complexa, que se materializa em vários gêneros particulares de textos: um poema, um e-mail; uma carta de amor, um requerimento; um bilhete, uma tese; um aviso, um texto argumentativo; uma notícia, uma crônica...cada um escrito à sua maneira.

ESCREVER – vender uma idéia, emitir um parecer, dar uma explicação, argumentar, tergiversar, arrazoar, peticionar, expor, persuadir, convencer, perquirir, suplicar – é tecer textos, é ter competência textual, e não apenas dominar um-saber-fazer-frases-certinhas.

ESCREVER é uma atividade que exige uma competência comunicativa, uma competência sociolinguísticopragmática.

ESCREVER requer domínio da gramática da frase - competência linguística.

ESCREVER requer senso de adequação: ajustar o texto à situação comunicativa, ao público ouvinte ou leitor, ao ambiente, às intenções da interação,etc. – competência sociolinguisticopragmática.

ESCREVER é dialogar com outros textos, pois um texto não nasce, não vive, não está só em inocente solitude. Escrever é um trabalho de patchwork (Jaqueline Segato).

ESCREVER é aproveitar criativamente os materiais interdiscursivos -idéias e linguagem.

ESCREVER é espremer-se, pois escrevemos o que lemos, pois somos a soma de nossas vivências, experiências e leituras (Borges).A escrita é sequela da leitura (Scliar).

ESCREVER não é (só) dom. Escrever é assimilação (Albalat); por isso, quando se começa a escrever, imitar, plagiar, não faz mal nenhum...

ESCREVER é estar incluído, é um direito, é garantia de conquista dos direitos da Cidadania.

SAUDADES


Houve um tempo
em que estendias às brisas
nossos lençóis de linho
e desfraldavas ao sol
os nossos sonhos

Houve um tempo
em que bebíamos vinho
e eu te escrevia poemas
de amor
nos guardanapos dos restaurantes
( e tu lias e dobrava-os
delicadamente enrubecida...)

Houve um tempo.

( Poema no Ônibus - Edição 2000 - Porto Alegre)

In DEFINIÇÕES



POESIA

Flores
cências num canteiro de obra.


SAUDADES

Mala pesada de chumbo
de reminiscências.

(Houvera acenos brancos outrora.)

SAUDADES

Ummmmm vvvvvv aral vvv aziiiiiiiiii o!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Entrevista

Como ser criativo, original


Entrevista com Giscar Otreblig, escritor e crítico literário, professor e ministrante de oficinas de escrita criativa.

Giscar Otreblig, nascido na Arábia Saudita, com passagem por Portugal e radicado no Rio de Janeiro, concede entrevista para o GUIA DE PRODUÇÃO TEXTUAL (www.pucrs.br/gpt/index.php) de autoria de Gilberto Scarton. Giscar é, além de escritor, crítico literário, professor e ministrante de oficinas de escrita criativa.

Gilberto Scarton


GPT - E a literatura árabe?
Giscar - Vai bem, obrigado. Editores descobrem a atual geração de escritores de língua árabe. E cresce, surpreendentemente, o número de mulheres árabes escritoras.

GPT - Por exemplo?
Giscar - Rajaa Alsanea, ameaçada de morte, por revelar em seu livro "Vida dupla", como vivem os jovens de classe média alta na Arábia Saudita. E Fadia Faqir, ativista jordaniana que defende os direitos da mulher no mundo árabe. Vejo o seu livro "Meu nome é Salma".

GPT - Qual o maior nome da literatura árabe moderna?
Giscar - É Naguib Mahfouz, Nobel de literatura em 1988.

GPT: Além de professor e escritor, o senhor é crítico literário e ministra oficinas de escrita criativa. Que é mesmo escrita criativa?
Giscar - A escrita criativa, em certo sentido, se opõe à escrita utilitária, burocrática. Poderia ser denominada de escrita literária, lúdica. A escrita de poemas, de contos, de jogos de palavras, etc...

GPT - Mas uma dissertação não pode ser criativa?
Giscar - Sem dúvida. Escrita criativa tem um sentido mais amplo do que aquele mencionado anteriormente: a criatividade exerce-se em todos os níveis de produção lingüística. Manifesta-se em diferentes tipos de texto.

GPT - Até numa receita culinária?
Giscar - Até numa receita culinária. Que o diga o Sr. Houaiss. Mas observe-se: há graus de criatividade.

GPT - Então, quando um texto é criativo?
Giscar - Um texto é criativo quando se afasta da vala comum dos outros textos. Quando divergir, tanto quanto possível, de outros textos na abordagem do tema, no emprego dos recursos gráficos e fônicos, na seleção dos vocábulos, na construção das frases, no emprego dos recursos semânticos, etc.

GPT - O senhor falou "tanto quanto possível..."
Giscar - Sim. Foi Voltaire quem disse: "a originalidade não é senão uma imitação prudente. Os mais originais escritores pegaram emprestado uns dos outros".

GPT - Então nenhum texto é inteiramente original?
Giscar - Acho que não. Cada texto é uma transformação de outros textos. Isso é muito fácil de ser entendido. Nenhum texto se produz no vazio ou nasce numa inocente solitude. Ao contrário, alimenta-se de outros textos. É o fenômeno da intertextualidade...

GPT - Qual a implicação do que o senhor acaba de afirmar para um "aprendiz da escrita", para o ensino da língua portuguesa?
Giscar - Quanto mais lemos e bem, mais possibilidades temos de compreender um texto, um poema, determinado escritor, de entender os caminhos percorridos por ele. Por outro lado, mais aptos estaremos de escrever nossos próprios textos. Ler não é apenas um verbo... ensinar a ler é a prática mais importante na Educação.

GPT - Então uma oficina de escrita criativa tem importância relativa?
Giscar - Eu diria que sim. Diria mais: quem deseja cursar uma oficina de escrita criativa deveria conhecer os objetivos da oficina, fazer algumas aulas e, a partir daí, decidir se é conveniente, bom, produtivo fazer todas as aulas.

GPT - Que objetivos o senhor estabelece para suas oficinas?
Giscar - Desfazer mitos, preconceitos a respeito da escrita; ensinar o aluno a ler; entender os mecanismos da escrita criativa; vivenciar a experiência de construir textos criativos; resgatar no oficineiro a consciência de que ele é um ser criativo...

GPT - Ensinar a ler?
Giscar - Sim, exatamente. Ensinar a ler como um escritor. Desnudar cada palavra. Cada frase. Cada parágrafo, texto ... para descer às profundezas da linguagem e fruir o belo.

GPT - Mas tem-se dito muito que escrever é um dom. Que o senhor acha?
Giscar - Escrever é um dom... mas um dom de todos, pois a linguagem é apanágio da espécie humana.

GPT - Posso concluir que também não é uma questão de inspiração...?
Giscar - Inspiração é/deve ser como visita de sogra. Está chegando e ... já deve estar saindo. (Giscar queria retirar essa comparação... pois considera (e é) preconceituosa. Diz que sua sogra é generosa como uma geladeira: sempre obsequiosa, prestativa...).

GPT - É questão de trabalho, de transpiração, para usar de um lugar comum?
Giscar - Fernando Sabino afirmou que não tem facilidade nem para escrever uma carta. E Paulo Mendes Campos disse quem tem facilidade para escrever não é escritor, é orador. Escrever é uma dura estiva de desembarcar idéias na folha branca, imaculada. É um desafio constante. É um constrangimento. Mas é isso que nos empurra para o desafio da escrita, para as situações criativas, para gerar histórias, poemas, textos. A criatividade surge da dificuldade, da necessidade de resolver um problema. Olavo Bilac, quando se punha a escrever, dizia que baixava um anjo diabólico e lhe sussurrava: hoje estás fadado a escrever sem inspiração. Escrever é trabalho, é cavar fundo na memória, é voar com a imaginação, é desvendar subterrâneos, desbravar galerias... reescrever...

GPT - Escrever é um exercício humano.
Giscar - Escrever é um exercício humano. Requer disciplina, disposição, ambição, uma boa dose de imaginação (a louca da casa), sensibilidade, ter uma dor de cotovelo, estar de bem com a vida (ou não...). E alguns quilômetros rodados. De preferência, desde a infância. Escrever é um exercício de liberdade. E de coragem: as palavras queimam. E é um exercício de solidão... mas que nos arranca de nós mesmos e nos leva ao encontro dos outros, do mundo, solidarizando-nos.

GPT - Louca da casa?
Giscar - "Louca da casa" é a expressão empregada por Santa Teresinha do Menino Jesus para referir a imaginação. Rosa Montero se apropriou da frase para dar nome a um de seus livros. A escritora madrilenha diz que imaginação é a louca fascinante que mora no sótão. Ser romancista (e escritor, e poeta, e...) é conviver feliz com a louca lá de cima. E não ter medo de visitar todos os mundos possíveis e alguns impossíveis".

GPT - Li, não lembro onde, que muitos romances, contos, poemas nascem de uma frase.
Giscar - É mesmo. Nascem de uma célula, de um ovinho, como costumo dizer. Esta célula pode ser uma emoção, um rosto, uma frase, um fato. Meu primeiro romance "Oásis" nasceu de uma frase "o sertão é dentro da gente... viver é muito perigoso".

GPT - O senhor escreve muito?
Giscar - Estou sempre escrevendo. Escrevo antes de deitar, dormindo, nas horas de insônia, quando acordo, quando passeio com meus cachorros... Eu escrevo mentalmente sempre. As frases, as idéias estão sempre borbulhando no meu sótão. E se não anoto a tempo...

GPT - Voltando à gênese de uma obra: da dor de perder também nasce a obra...
Giscar - A frase é do psicólogo Phillipe Brenot, autor de "O gênio da loucura". "... Nasce de uma experiência profunda, captada pela sensibilidade do artista que apreende momentos perturbadores da existência: as perdas, os danos, os enganos, os logros, os malogros, os desenganos, os segredos, os amores, os desamores, o nascimento, a vida, a morte, a opressão, a angústia, a náusea, o ser, o não-ser, o ciúme, a inveja, a ira, a solidão... Fazer literatura, ler literatura, é falar/ler sobre nós mesmos... sobre mim... sobre ti. Sobre o mundo. Da vida feita de angústias e felicidades.

GPT - A literatura é então conhecimento?
Giscar - A literatura é luz. É relâmpago que abre clareiras na treva. É trovão. Que pode sacudir as mentes, que lança chamas que incendeiam e clarificam a realidade. Escrever é, então, um ato maiêutico. É um ato solidário. É um ato libertador. É um ato político. É um ato de amor.

GPT - Muito obrigado!
Giscar - Obrigado a você.

sábado, 9 de maio de 2009

Ponte do Rio das Antas - Cotiporã


Serra do Rio do Rastro


Itaimbezinho - Cambará do Sul



 
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